sábado, 25 de agosto de 2012

MAMIRAUÁ: UM EXEMPLO PARA O PLANETA


As Unidades de Conservação, sejam de proteção integral ou de desenvolvimento sustentável, tem sido a forma mais eficaz de preservarmos as formas de vida que habitam o meio natural, dando a elas descanso, refúgio e proteção contra as ações nada civilizadas do homem. Um exemplo de sucesso e superação é o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Estado do Amazonas, que abriga um autêntico santuário da vida selvagem e mantém as populações tradicionais como parceiras.
 O Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá tem suas raízes no ano de 1980, quando o Primatólogo José Marcio Ayres começa seus estudos na região do Médio Solimões. Mais tarde, em 1985, José Marcio Ayres e o fotógrafo Luis Cláudio Marigo encaminham ao governo federal uma proposta para a criação de uma área para proteção, principalmente voltada para a proteção do primata Uacari-branco (cacajao calvus calvus) que constava na lista oficial de animais ameaçados de extinção, medindo em torno de 200 mil hectares. Solicitação atendida pelo governo federal em 1986 quando criou  a Estação Ecológica de Mamirauá (EEM).
A Estação Ecológica recém-criada foi então transferida para a responsabilidade do governo do Estado do Amazonas que a incorporou através do decreto nº 12.836 de 9 de março de 1990 e aumentou sua área para os limites que conhecemos hoje, totalizando 1, 124 mil hectares e tem como limites o rio Solimões, o rio Japurá e o canal Uati-paraná, na região do médio Solimões no Estado do Amazonas.
Por ser a Estação Ecológica uma espécie de Unidade de Conservação de proteção integral que proíbe a permanência de moradores em sua área, o modelo de estação ecológica para Mamiruá tornou-se inviável, pois haviam inúmeras famílias que viviam ali há anos e a criação da reserva não lhes acrescentaria nada, pelo contrário, lhes tiraria tudo o que tinham. Nos anos de 1994 e 1995 após várias discussões envolvendo autoridades ambientais, o governo do Estado e a população local com o apoio de pesquisadores que elaboraram um plano de manejo e apresentaram uma proposta que mudaria a categoria de Estação Ecológica para Reserva de Desenvolvimento Sustentável. Essa proposta foi aceita pelo governo do Estado do Amazonas e em 1996 foi criada a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e no mesmo ano é divulgado seu plano de manejo.
No ano de 1998 foi criada pelo governo do Amazonas a Reserva Amanã  vizinha a reserva Mamirauá e que faz a ligação entre esta e o Parque Nacional do Jaú.  Juntas Mamirauá e Amanã formam o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá que foi a Primeira Unidade de Conservação do país a utilizar o modelo de desenvolvimento sustentável. É a maior Unidade de Conservação do Brasil localizada em área de várzea e é um dos sítios brasileiros da convenção de Ramsar das Nações Unidas que confere grau de importância a áreas alagadas em todo o mundo.
Com o objetivo de incentivar o uso de maneira sustentada dos recursos naturais nas Reservas de Mamirauá e Anamã  e também para conservar a biodiversidade e proporcionar a melhoria da qualidade de vida das populações residentes nas reservas, foi criado o plano de manejo. Quando foi implantado, esse plano de manejo abrangia uma área de 260 mil hectares, mas devido a necessidade de atender um número maior de ribeirinhos, essa foi expandida para a totalidade das reservas. Essa recente expansão autorizada pelo governo do Estado do Amazonas, em fevereiro de 2011, atendeu assim a solicitação do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e da sociedade civil da região que implementaram mudanças ao plano de manejo elaborado em 1995.
O plano de manejo atual foi elaborado por pesquisadores do IDSM, auxiliados pela sabedoria da população local, monitorando as espécies utilizadas no manejo e em concordância com a legislação ambiental . Esse plano, através de suas várias modalidades, começou a funcionar no ano de 1998, em caráter experimental em comunidades selecionadas onde a população possuía o dom para a atividade econômica e que tivessem acesso aos recursos a serem manejados.
Macaco Uacari branco(graças a ele, existe a reserva Mamirauá) Foto: Pousada Uacari  
O Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá ( IDSM) assiste aos moradores das reservas de Mamirauá e Amanã dando a eles total suporte para o desenvolvimento das atividades implementadas dentro das reservas: orientações para o fortalecimento da gestão comunitária, para a capacitação e aperfeiçoamento das práticas de produção e assessoria para o licenciamento e comercialização dos produtos produzidos nas reservas. Existem várias atividades desenvolvidas, dentre os quais pode-se destacar a agricultura familiar, o artesanato, utilização dos recursos florestais,  utilização dos recursos pesqueiros e o turismo de base comunitária.
Agricultura familiar - Desenvolvido por pesquisadores do IDSM, tem como principal objetivo promover o manejo agroecológico dos agroecossistemas através de um diagnóstico do manejo secular realizado pelas comunidades ribeirinhas e apartir desse diagnóstico implementar técnicas modernas e simples para melhorar essa atividade. Há também o incentivo ao manejo de abelhas nativas sem ferrão, a criação familiar de animais de pequeno porte como galinhas, patos, perus, porcos e carneiros, além da produção de hortaliças.
Artesanato – Incentivado apartir do ano de 1998, inicialmente teve como objetivo repassar o oficio para as novas gerações pois poderia perder-se no tempo caso não houvesse a prática. Hoje é um oficio muito valorizado e respeitado dentro e fora das reservas, tendo em vista a grande procura pelos ecoturistas que visitam as reservas e desejam levar uma lembrança de Mamirauá.
Recursos florestais – Implementada com o objetivo de realizar a extração sustentável da madeira por meio de planejamento, de seleção, monitoramento e execução do projeto com participação ativa dos ribeirinhos interessados na exploração desse recurso.
Recursos pesqueiros – A pesca é a atividade econômica mais importante para os ribeirinhos da Amazônia e por isso, o IDSM implantou apartir do ano de 1997 o programa de manejo da pesca com o objetivo de promover a exploração sustentável dos recursos pesqueiros nas reservas do instituto. Tendo como principal produto de comercialização o internacionalmente conhecido Pirarucu ( Arapaima gigas ) que anualmente tem uma comercialização de 1000 toneladas. Além do Pirarucu existem outras espécies economicamente viáveis como o Tambaqui (Colossoma macropomum), além de outras espécies.
Turismo de base comunitária – Dentro da Reserva Mamirauá foi construída uma pousada para a hospedagem de visitantes  interessados em conhecer as atividades desenvolvidas na reserva, assim como as maravilhas naturais existentes nessa região. A pousada é administrada pelos próprios ribeirinhos que receberam treinamento para a atividade. O programa tem como objetivo promover assessoria técnica para as iniciativas de turismo de base comunitária e subsidiar o manejo dessa atividade.
Além das atividades citadas anteriormente, o IDSM recebe cientistas de várias universidades do Brasil e também do exterior  interessados em desenvolver estudos relacionados ao desenvolvimento sustentável e também sobre as espécies animais e vegetais (muitas endêmicas) que habitam a área das reservas.
O Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá  é um exemplo de Unidade de Conservação que deu certo. Com planejamento, mobilização da sociedade civil, pesquisadores de várias universidades, ribeirinhos moradores das reservas e autoridades governamentais  empenhados em proteger  a natureza . É um exemplo impressionante que prova que com vontade política e com a ajuda da população e pesquisadores, é possível a exploração sustentável dos recursos naturais através de manejo adequado e promover melhoria da qualidade de vida dos moradores locais sem precisar agredir o meio ambiente. O exemplo de sucesso desse modelo de exploração nos deixa orgulhosos em saber que em algum lugar do Brasil a natureza está sendo bem cuidada. Está havendo uma perfeita sincronia entre o homem e o meio ambiente. É a prova que poderemos preservar a natureza sem criar mitos.
Fonte: Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá- Disponível em:<http://www.mamiraua.org.br/>.

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