As Unidades de Conservação, sejam de proteção integral ou de
desenvolvimento sustentável, tem sido a forma mais eficaz de preservarmos as
formas de vida que habitam o meio natural, dando a elas descanso, refúgio e
proteção contra as ações nada civilizadas do homem. Um exemplo de sucesso e
superação é o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Estado do
Amazonas, que abriga um autêntico santuário da vida selvagem e mantém as
populações tradicionais como parceiras.
O Instituto de Desenvolvimento
Sustentável Mamirauá tem suas raízes no ano de 1980, quando o Primatólogo José
Marcio Ayres começa seus estudos na região do Médio Solimões. Mais tarde, em
1985, José Marcio Ayres e o fotógrafo Luis Cláudio Marigo encaminham ao governo
federal uma proposta para a criação de uma área para proteção, principalmente
voltada para a proteção do primata Uacari-branco (cacajao calvus calvus) que constava na lista oficial de animais
ameaçados de extinção, medindo em torno de 200 mil hectares. Solicitação
atendida pelo governo federal em 1986 quando criou a Estação Ecológica de Mamirauá (EEM).
A Estação Ecológica recém-criada foi então transferida para a
responsabilidade do governo do Estado do Amazonas que a incorporou através do
decreto nº 12.836 de 9
de março de 1990 e aumentou sua área para os limites que conhecemos hoje,
totalizando 1, 124 mil hectares e tem como limites o rio Solimões, o rio Japurá
e o canal Uati-paraná, na região do médio Solimões no Estado do Amazonas.
Por ser a Estação
Ecológica uma espécie de Unidade de Conservação de proteção integral que proíbe
a permanência de moradores em sua área, o modelo de estação ecológica para
Mamiruá tornou-se inviável, pois haviam inúmeras famílias que viviam ali há
anos e a criação da reserva não lhes acrescentaria nada, pelo contrário, lhes
tiraria tudo o que tinham. Nos anos de 1994 e 1995 após várias discussões
envolvendo autoridades ambientais, o governo do Estado e a população local com
o apoio de pesquisadores que elaboraram um plano de manejo e apresentaram uma
proposta que mudaria a categoria de Estação Ecológica para Reserva de
Desenvolvimento Sustentável. Essa proposta foi aceita pelo governo do Estado do
Amazonas e em 1996 foi criada a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá
e no mesmo ano é divulgado seu plano de manejo.
No ano de 1998 foi
criada pelo governo do Amazonas a Reserva Amanã
vizinha a reserva Mamirauá e que faz a ligação entre esta e o Parque
Nacional do Jaú. Juntas Mamirauá e Amanã
formam o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá que foi a Primeira
Unidade de Conservação do país a utilizar o modelo de desenvolvimento
sustentável. É a maior Unidade de Conservação do Brasil localizada em área de
várzea e é um dos sítios brasileiros da convenção de Ramsar das Nações Unidas
que confere grau de importância a áreas alagadas em todo o mundo.
Com o objetivo de
incentivar o uso de maneira sustentada dos recursos naturais nas Reservas de
Mamirauá e Anamã e também para conservar
a biodiversidade e proporcionar a melhoria da qualidade de vida das populações
residentes nas reservas, foi criado o plano de manejo. Quando foi implantado,
esse plano de manejo abrangia uma área de 260 mil hectares, mas devido a
necessidade de atender um número maior de ribeirinhos, essa foi expandida para
a totalidade das reservas. Essa recente expansão autorizada pelo governo do
Estado do Amazonas, em fevereiro de 2011, atendeu assim a solicitação do
Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e da sociedade civil da
região que implementaram mudanças ao plano de manejo elaborado em 1995.
O plano de manejo
atual foi elaborado por pesquisadores do IDSM, auxiliados pela sabedoria da
população local, monitorando as espécies utilizadas no manejo e em concordância
com a legislação ambiental . Esse plano, através de suas várias modalidades,
começou a funcionar no ano de 1998, em caráter experimental em comunidades
selecionadas onde a população possuía o dom para a atividade econômica e que
tivessem acesso aos recursos a serem manejados.
Macaco Uacari branco(graças a ele, existe a reserva Mamirauá) Foto: Pousada Uacari
O Instituto de
Desenvolvimento Sustentável Mamirauá ( IDSM) assiste aos moradores das reservas
de Mamirauá e Amanã dando a eles total suporte para o desenvolvimento das
atividades implementadas dentro das reservas: orientações para o fortalecimento
da gestão comunitária, para a capacitação e aperfeiçoamento das práticas de
produção e assessoria para o licenciamento e comercialização dos produtos
produzidos nas reservas. Existem várias atividades desenvolvidas, dentre os
quais pode-se destacar a agricultura familiar, o artesanato, utilização dos
recursos florestais, utilização dos
recursos pesqueiros e o turismo de base comunitária.
Agricultura familiar -
Desenvolvido por pesquisadores do IDSM, tem como principal objetivo promover o
manejo agroecológico dos agroecossistemas através de um diagnóstico do manejo
secular realizado pelas comunidades ribeirinhas e apartir desse diagnóstico
implementar técnicas modernas e simples para melhorar essa atividade. Há também
o incentivo ao manejo de abelhas nativas sem ferrão, a criação familiar de
animais de pequeno porte como galinhas, patos, perus, porcos e carneiros, além
da produção de hortaliças.
Artesanato –
Incentivado apartir do ano de 1998, inicialmente teve como objetivo repassar o
oficio para as novas gerações pois poderia perder-se no tempo caso não houvesse
a prática. Hoje é um oficio muito valorizado e respeitado dentro e fora das
reservas, tendo em vista a grande procura pelos ecoturistas que visitam as
reservas e desejam levar uma lembrança de Mamirauá.
Recursos florestais –
Implementada com o objetivo de realizar a extração sustentável da madeira por
meio de planejamento, de seleção, monitoramento e execução do projeto com
participação ativa dos ribeirinhos interessados na exploração desse recurso.
Recursos pesqueiros – A pesca
é a atividade econômica mais importante para os ribeirinhos da Amazônia e por
isso, o IDSM implantou apartir do ano de 1997 o programa de manejo da pesca com
o objetivo de promover a exploração sustentável dos recursos pesqueiros nas
reservas do instituto. Tendo como principal produto de comercialização o
internacionalmente conhecido Pirarucu ( Arapaima
gigas ) que anualmente tem uma comercialização de 1000 toneladas. Além do
Pirarucu existem outras espécies economicamente viáveis como o Tambaqui (Colossoma macropomum), além de
outras espécies.
Turismo de base comunitária – Dentro
da Reserva Mamirauá foi construída uma pousada para a hospedagem de
visitantes interessados em conhecer as
atividades desenvolvidas na reserva, assim como as maravilhas naturais
existentes nessa região. A pousada é administrada pelos próprios ribeirinhos
que receberam treinamento para a atividade. O programa tem como objetivo
promover assessoria técnica para as iniciativas de turismo de base comunitária
e subsidiar o manejo dessa atividade.
Além das atividades citadas anteriormente, o IDSM recebe cientistas de
várias universidades do Brasil e também do exterior interessados em desenvolver estudos
relacionados ao desenvolvimento sustentável e também sobre as espécies animais
e vegetais (muitas endêmicas) que habitam a área das reservas.
O Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá é um exemplo de Unidade de Conservação que
deu certo. Com planejamento, mobilização da sociedade civil, pesquisadores de
várias universidades, ribeirinhos moradores das reservas e autoridades governamentais empenhados em proteger a natureza . É um exemplo impressionante que
prova que com vontade política e com a ajuda da população e pesquisadores, é
possível a exploração sustentável dos recursos naturais através de manejo
adequado e promover melhoria da qualidade de vida dos moradores locais sem
precisar agredir o meio ambiente. O exemplo de sucesso desse modelo de
exploração nos deixa orgulhosos em saber que em algum lugar do Brasil a
natureza está sendo bem cuidada. Está havendo uma perfeita sincronia entre o
homem e o meio ambiente. É a prova que poderemos preservar a natureza sem criar
mitos.