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sábado, 22 de setembro de 2012

Santarém e seus sonhos utópicos


Santarém, a “Pérola do Tapajós” como é conhecida, vive desde os primeiros dias de sua criação à espera do desenvolvimento, que está sempre vindo, mas nunca chega, tal como o dia de amanhã. Muito se fala no tão esperado “salto econômico” que a cidade pode dar ao ser contemplada com a sonhada pavimentação da rodovia Santarém-Cuiabá, a BR-163, que teoricamente traria o  crescimento para a economia e consequentemente a melhoria da qualidade de vida da população local.
Recentemente, o governo federal anunciou o lançamento de um audacioso projeto que coloca Santarém na lista de cidades beneficiadas com a construção de uma ferrovia orçada em assombrosos 133 bilhões de reais. A ferrovia que liga o Centro-Oeste ao Porto de Santarém, servirá para reduzir os custos com o transporte da soja proveniente do Mato Grosso que é exportada através do porto santareno.
        O vice-governador do Estado do Pará, Helenilson Pontes, ficou eufórico ao falar que “ainda que a ferrovia ligando Santarém ao centro-oeste esteja em estudos, esse reconhecimento já foi alcançado”. A construção está prevista par acontecer daqui a 20 ou 25 anos, acredito que não é motivo para comemorar algo que sequer sabemos se irá de fato ocorrer.
Ainda focado no discurso do vice-governador, vemos claramente que continua o pensamento de continuarmos servindo como ponte, como “burros de carga”, como base, como escravos do capitalismo, pois essa obra se concluída servirá apenas para escoar a produção do Mato Grosso e nada ficará para a cidade, a exemplo do porto da Cargill que trouxe consigo miséria e terror para a região.
É hora de pensarmos numa maneira de tirar Santarém dessa poça de lama em que está submersa há décadas e não sonhar com algo que pode ou não acontecer daqui há 20 anos. Os problemas sociais estão aí, a cidade sofre com o inchaço populacional provocado pela expulsão de famílias de suas terras na área rural por grandes agricultores do centro-sul do país, para dar lugar à plantação de soja.
A cidade não tem um programa de tratamento de esgoto que atenda os requisitos mínimos, para que os dejetos não sejam lançados diretamente nos rios. A infraestrutura da cidade, de forma geral, é precária, ruas necessitam urgentemente de asfalto ou mesmo de barro para tapar os buracos; a educação deixou a desejar na avaliação do IDEB(Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que avalia como está o ensino nas séries iniciais.
Teríamos motivo para comemorar se Santarém deixasse de ser “cavalo de sela” dos empresários do centro-sul, que só usam a estrutura portuária da cidade e nada deixam em troca. Seria extremamente útil se o município impusesse como condição para a construção de grandes empreendimentos, a construção/reforma de escolas, de hospitais, asfaltamento  de ruas, construção de estações de tratamento de esgoto, etc. para que a cidade deixasse de viver à margem do desenvolvimento, como pessoas que vivem á margem de estradas e só veem o progresso passar.
Santarém, que um dia sonhou ser a capital do Estado do Tapajós, luta contra problemas do século passado, como esgoto lançado nos rios, como ruas de terra batida e esburacadas, como o lixão a céu aberto que envergonha a todos  que tem uma mínima noção de educação ambiental. Problemas que se resolvidos colocariam a cidade numa posição de destaque no cenário nacional e quiçá, mundial.
Posso aqui, correndo o risco de parecer ridículo, fazer uma comparação da cidade no estado atual com uma pessoa que vive nas ruas, com suas roupas sujas, descalça e faminta – mas se alguém ou se algum organismo der a atenção que essa pessoa necessita como alimentação, roupas limpas, calçados, um abrigo e  até mesmo um emprego, a pessoa será outra, terá outra aparência e se sentirá mais humana, mais importante. Assim seria Santarém, se alguém olhasse com carinho, se preocupasse com os problemas(que são muitos), aos poucos soluciona-los de acordo com a ordem prioritária, logo  estaria vestida, limpa, calçada e estabilizada.
A cidade tem um potencial turístico extraordinário que contrasta com a miséria que  se expande quase que diariamente e de certa forma sufoca este potencial. Desejo ver a cidade onde nasci cheia de grandes realizações destinadas ao bem estar de seu povo e não dos empresários migratórios, que usam a cidade sem nada deixar como recompensa a não ser buracos, destruição e miséria.

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