Nas estradas fluviais, transportes marítimos de portes variados são meios necessários para o deslocamento de passageiros, abastecimento de suprimentos básicos e escoamento de parte da produção agrícola do Estado do Mato Grosso e do Pólo Industrial de Manaus para o restante do Brasil e no mundo, sendo fonte de vida e de renda da população nativa. Porém, a violência recorrente da pirataria, vem trazendo morte, desespero e prejuízos milionários às embarcações atacadas, aterrorizando a tripulação e passageiros das cidades ribeirinhas, com ataques cada vez mais organizados e bárbaros pelos afluentes da Amazônia.
A exemplo da violência que assola os que circulam pela localidade, em 2001, repercutiu em todo o mundo o ataque que ocorreu próximo à cidade de Macapá, no Amapá, ao Veleiro Seamaster, que vitimou o velejador oceânico neozelandês Peter Blake, assassinado com um tiro nas costas ao ter a sua embarcação invadida por homens encapuzados e seus tripulantes esfaqueados. Peter estava em uma missão de caráter científico, realizando estudos sobre o aquecimento global e era patrocinado por uma agência da ONU.
Embarcação de passageiros em Breves- Foto: J. Jorge
No alvo dos criminosos, o Estreito de Breves, no Estado do Pará, é apontado como o local mais perigoso para o ataque de piratas, por ser estratégico e possibilitar a ligação entre os Estados do Amapá, Amazonas e Pará, onde passam diariamente balsas carregadas de combustível (botijões de gás, óleo diesel, gasolina, querosene, etc.) e componentes eletrônicos vindos de Manaus. Decorrentes dos ataques morrem pessoas inocentes, como o acontecido em março deste ano, em que o chefe de máquinas de uma embarcação foi morto a tiros ao reagir à abordagem. Ainda no Estado do Pará, ocorreu outro caso que chamou a atenção pela ousadia e selvageria dos bandidos, no dia 01 de dezembro de 2012, uma balsa com 67 carretas carregadas de produtos eletrônicos encalhou no Furo do Arrozal, em frente à cidade de Barcarena, e mesmo com seguranças armados e com apoio da Polícia Militar, um grupo composto por mais de 20 piratas, jogou os seguranças ao rio, saqueou 13 carretas, deixando um prejuízo imensurável para a empresa dona da carga.
Em sequência, destacam-se pelos ataques pontos localizados ao longo do rio Amazonas, entre as cidades de Parintins e Itacoatiara; no rio Madeira, entre as cidades Manicoré e Novo Aripuanã; no Rio Solimões, a partir da cidade de Manacapuru e no rio Negro, no trecho entre Manaus e novo Airão, onde tem ocorrido frequentemente ataques à balsas que transportam mercadorias para o interior do Estado. Pode-se citar dois casos recentes: em dezembro de 2014, dois homens que trabalhavam em um barco de médio porte, vendendo gasolina, óleo diesel e gelo para a população ribeirinha foram atacados, mortos, esquartejados e partes do corpo de uma das vítimas foram jogadas no rio. Outro ataque ocorreu em maio de 2015, quando uma balsa atracada em frente a cidade de Manaus, carregada com combustível avaliado em R$ 300 mil reais, foi abordada e todo o combustível levado pelos criminosos.
No Estado do Amazonas, diversos ataques ocorreram ao longo dos últimos anos, muitos deles não chegam ao conhecimento das autoridades por medo de represália por parte dos criminosos. Esses piratas de rio agem sob a proteção da escuridão, conhecendo perfeitamente toda a geografia da região e se escondem nos inúmeros canais que cortam a imensidão da Amazônia, tornando muito difícil sua identificação e captura. Também contam com um sistema que permite monitorar toda a comunicação das embarcações que navegam pelos principais rios, o que lhes permitem identificá-las e tomar conhecimento das mercadorias transportadas e preparar a abordagem para saquear todo o conteúdo. Alguns piratas presos, relatam sobre o roubo simulado: quando o dono da embarcação combina com os ladrões, o primeiro fica com o pagamento do seguro contratado e o segundo com a mercadoria. Porém, não se sabe ao certo se essa informação é verídica.
A missão de prevenir e combater a pirataria nos rios amazônicos é árdua, pois trata-se de uma área imensa, com centenas de rios, lagos, furos, paranás, igarapés, matas alagadas, matas de terra firme e manguezais que possibilitam inimagináveis opções de esconderijo aos criminosos (e eles as utilizam). Outro facilitador da ação dos criminosos seria a não disponibilização de pessoal e material por parte do Estado onde há problemática, tendo apenas uma delegacia fluvial da Polícia Civil em Belém e outra em Manaus.
Com ações voltadas para um combate eficiente ao crime de pirataria, pode-se pensar inicialmente em investimentos maciços na área de segurança pública, com aquisição de embarcações que desenvolvam grandes velocidades em número suficiente para cobrir toda a malha fluvial onde os crimes ocorrem, contratação de pessoal, aplicação de treinamento voltado para o combate ao crime nos rios. Há quem defenda que seja criada a Polícia Fluvial Federal nos mesmos moldes da Polícia Rodoviária Federal, já que os grandes rios da Amazônia assemelham-se as grandes rodovias federais, por onde passam diariamente as riquezas produzidas pelo país. Mas, enquanto nada acontece, os navegantes amazônicos contam com a sorte, em alguns casos com seguranças armados e quiçá com a proteção divina.
Fontes:
G1- Portal de notícias- http://g1.globo.com/am/amazonas/index.html
Portal do Holanda- http://www.portaldoholanda.com.br/amazonia
Jornal A crítica - http://acritica.uol.com.br/
Parabéns, José Jorge.
ResponderExcluirFantástica constatação da realidade amazônica e dos problemas que enfrentam a malha fluvial tão importante para o escoamento de riquezas da região.
Sábia solução: criar a Policia Fluvial Federal para defender não somente as embarcações atacadas, mas também a região amazônica com todos os seus potenciais as margens dos rios.